domingo, 13 de abril de 2008

O Engano

Uma das lições mais tristes da história da humanidade é a seguinte: se formos enganados por muito tempo, a nossa tendência é rejeitar qualquer evidência do logro. Já não nos interessamos em descobrir a verdade. O engano nos aprisionou. É simplesmente doloroso demais admitir, mesmo para nós mesmo, que fomos enganados. Se deixarmos que um charlatão, padre, pastor tenha poder sobre nós, quase nunca conseguimos recuperar nossa independência. Por isso, os antigos logros tendem a persistir, enquanto surgem outros novos, enquanto isto a ciência tenta iluminar os limiares do desconhecido.

Assim, as sessões espíritas são realizadas apenas em salas escurecidas, onde os participantes têm, quando muito, uma visão vagas dos ditos fantasmas visitantes. Se acendemos um pouco as luzes, para ter uma chance de ver o que está se passando, os espíritos desaparecem. São tímidos, é o que nos dizem, e alguns de nós acreditamos nessa história. Nos laboratórios de parapsicologia do século XX há o "efeito do observador": os que são considerados médiuns talentosos acham que seus poderes diminuem bastante sempre que surgem os céticos, desaparecendo totalmente na presença de um mago tão experiente quanto James Randi, este que não conseguiu dar o 1 milhão de dólares para quem provasse que tinha poderes paranormais, ele deixou 10 anos em aberto e nenhum paranormal no mundo inteiro conseguiu nem um misero truque. Eles precisam é de escuridão e credulidade.

Em 1858, uma aparição da Virgem Maria foi relatada em Lourdes, França; a Mãe de Deus confirmou o dogma de sua imaculada conceição que fora proclamado pelo papa Pio IX havia somente quatro anos. Centenas de milhões de pessoas têm ido a Lourdes desde então na esperança de serem curadas, muitas com doenças que a medicina da época era incapaz de tratar. A Igreja católica rejeitou a autenticidade de um grande número de pretensas curas milagrosas, aceitando em um século e meio apenas 65 (de tumores, tuberculose, oftalmia, bronquite, paralisia e outras doenças, mas nenhuma regeneração de membro ou de medula espinhal rompida). O numero de visitas ultrapassa mais de 100milhões de pessoas. Portanto, a probabilidade de cura em Lourdes é superior a de uma em 1 milhão; é mais ou menos tão provável ser curado em Lourdes quanto ganhar na loteria, ou morrer no acidente de um avião de linha regular e selecionado ao acaso – inclusive o que se destina a Lourdes.
A taxa de regressão espontânea de todos os cânceres, em conjunto, é estimada entre uma em 10 mil e uma em 100mil. Se apenas 5% dos que vão a Lourdes ali estivessem para tratar de seus cânceres, deveria haver entre cinqüenta e quinhentas curas “miraculosas” só de câncer. Como apenas três das 65 curas autenticadas são de câncer, a taxa de regressão espontânea em Lourdes parece ser inferior à que existiria se as vitimas tivessem simplesmente ficado em casa. É claro que, se você é um dos 65 casos, vai ser muito difícil convencê-lo de que a viagem a Lourdes não foi a causa da regressão de sua doença... Post hoc, ergo propter hoc (depois disto, logo causado por isto*).


Tirado do livro “O Mundo assombrado pelos demônios” Carl Sagan
http://pt.wikipedia.org/wiki/Post_hoc_ergo_propter_hoc

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